terça-feira, 30 de setembro de 2008

Monárquicos antecipam comemorações do centenário denunciando lado sombrio da República

Os republicamos perseguiam a imprensa, discriminavam as mulheres, desprezavam a democracia. Por isso, a 5 de Outubro deste ano, não há nada para comemorar. Muito menos a 5 de Outubro de 2010, data do centenário da revolução republicana. É isto que diz um grupo de monárquicos organizados numa autodesignada Plataforma do Centenário da República, que ontem apresentou à imprensa um manifesto.

João Távora e Carlos Bobone foram os porta-vozes do movimento. "O que aparece, nos manuais escolares, nos catálogos dos museus, é só uma pequena parte da história", disse Carlos Bobone, que se apresentou como "historiador, alfarrabista e monárquico". A República é sempre "idealizada e embelezada", o que não nos deixa ver o "seu lado mais sombrio", explicou. "Nós queremos lembrar a República como ela realmente foi". O método é um site na Internet (http://www.centenariodarepublica.org/) , onde são apresentados documentos, textos, imagens e recortes de jornais da época, e um blogue (http://www.centenariodarepublica.blogsopt.com/), aberto a opiniões e comentários."A República é considerada precursora ideológica do regime em que vivemos. Nós pretendemos mostrar que isso não é verdade", diz Bobone.
Exemplos? A democracia. "Os republicanos conseguiram que, às primeiras eleições que organizaram, só se apresentasse, praticamente, o Partido Republicano. Dos 226 deputados do Parlamento, 220 eram do PRP".

João Távora, descendente de uma família perseguida desde o tempo do Marquês de Pombal, apresenta-se como "profissional de comunicação empresarial". Explicou as vantagens da Internet e dos blogues na divulgação das ideias de grupos minoritários, e anunciou que uma busca no Google já produz resultados que reflectem os pontos de vista da plataforma. No site são mencionadas centenas de presos políticos da República ("entre os quais muitos republicanos, não apenas monárquicos", segundo Bobone). Mas em breve os seus mentores contam ter os nomes de milhares de presos políticos. É um dos "lados negros" da República. Outro, que Távora quis enfatizar, na esperança de sensibilizar os jornalistas, é a perseguição à imprensa livre. O próprio logótipo da plataforma é um cartoon representando um polícia republicano perseguindo um ardina. "A imprensa é uma das vítimas inesperadas da República", ao contrário dos religiosos, da família real ou dos aristocratas", explicou Bobone. Segundo a lei, havia liberdade de imprensa. Só a pornografia ou os boatos eram proibidos. Na realidade, dizer que a monarquia é melhor do que república era considerado um boato.

Notícia do Público, 30-09-08

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